Ainda há esperança (?)

​Nas últimas três semanas, um tema tem martelado incessantemente minha cabeça. Senti uma necessidade de escrever sobre isso e desabafar, mas de forma responsável. Não tenho certeza se conseguirei.​

Muito se tem discutido sobre os movimentos Redpill, Incels, a misoginia e seus impactos negativos nos adolescentes, especialmente após a série “Adolescência” da Netflix. Como feminista, é impossível não concordar com o estrago imensurável que essa cultura de “homens de valor” (expressão que detesto) pode causar em jovens em desenvolvimento.​

No entanto, o que realmente me atingiu, pois bateu bem perto, foi perceber que esse discurso distorcido também permeia minha geração. Conheci meu marido aos 21 anos e me casei com ele quatro meses depois. Assim, não vivi a experiência de ser uma jovem adulta solteira e não testemunhei os homens da minha idade reproduzindo essas ideias retrógradas enquanto tentavam conquistar uma mulher.​ Eu encontrei meu principe e mergulhei de cabeça. Podia jurar que todo o cara de vinte e poucos anos era basicamente como ele: trabalhador, independente financeiramente, respeitava as mulheres (não somente as que ele gostava), reconhecia seus erros e estava sempre disposto a amadurecer e evoluir.

Conversando com amigas da minha idade, solteiras e comprometidas, compartilhando experiências e desabafos, percebi que estava errada. Muitos homens da nossa geração (Millenials) estão utilizando esse discurso misógino como justificativa para suas vidas fracassadas. São homens próximos dos 40 anos, morando com os pais (com a mãe para ser mais exata), com uma situação financeira lamentável, alguns divorciados, com filhas para sustentar, e que adotam uma ideologia tão inacreditável que, ao tentarem qualquer tipo de contato com uma mulher minimamente bem-sucedida, falham miseravelmente. Eles não sabem conversar, não sabem ser agradáveis, não sabem como agir em uma relação casual. São esses caras que defendem jogador de futebol estuprador, que desmerecem a denuncia de assedio da assistente de palco, que afirmam que o feminismo não busca por igualdade e sim por superioridade (ai, sai daquiiiii). Tais homens de valor que possuem um egocentrismo falido, onde a única coisa que oferecem é uma foto não solicitada de algo meio murcho que acaba com o dia de qualquer mulher.​

Essa realidade é corroborada por dados preocupantes. Um estudo do Pew Research Center revelou que, em 2018, 15% dos millennials (entre 25 e 37 anos) moravam na casa dos pais, quase o dobro da porcentagem de baby boomers e membros da geração silenciosa (8% cada) que fizeram o mesmo na mesma idade. 

E antes que você pense que minha crítica seja ‘morar com os pais’, por favor, entenda que meu ponto gira em torno da falta de respeito pelas mulheres. Sejam elas suas mães, suas amigas, suas exs ou suas pretendentes.

Esses números refletem uma tendência crescente de adultos jovens enfrentando dificuldades para atingir marcos tradicionais da vida adulta, como independência financeira e estabelecimento de uma família própria (e aqui cabe qualquer estrutura de família). 
Fatores econômicos, como a recessão de 2008, e sociais contribuem para esse cenário. No entanto, é preocupante quando alguns desses homens canalizam suas frustrações pessoais em discursos de ódio contra as mulheres, em vez de buscar soluções construtivas para suas situações.​

Tento ser otimista quanto ao futuro, agora que estamos discutindo abertamente esses tópicos com nossos adolescentes.Além disso, sei que há muitos homens incríveis na minha geração (inclusive, casei com um).​

Às amigas solteiras, deixo meu “sinto muito por você ter que passar por isso” quando se deparam com alguém sem o mínimo de noção social.​

E aos homens, um apelo sincero: melhorem.​

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