Esses dias senti saudades do Brasil. E digo esses dias porque realmente não é sempre que sinto. Morar fora é uma parada muito estranha. Vários sentimentos se misturam como nunca tínhamos sentido antes.
Saudades da minha familia e dos meus amigos eu sinto sempre, mas do meu país, da minha cidade, do meu bairro, da minha rua, essa não é frequente.
A diferença foi que dessa vez eu senti uma saudade forte, que me fez pensar “o que estou fazendo aqui mesmo?”.
Por uns minutos lembrei da praia de Botafogo, dos quiosques de Copacabana, da alegria da Lapa, do acolhimento da Tijuca, da praticidade do Méier, da muvuca do Centro, do meu lar Jacarepaguá e da beleza das montanhas. Ah as nossas serras, nossos mares e nosso céu. Como o Brasil é lindo!
E quando me perdi nesse pensamento, acabei verbalizando a plenos pulmões “por que viemos morar nesse lugar feio mesmo?”.
Ok, tive que ficar meia hora ouvindo meu marido me lembrar dos ataques de pânico que sofri pelas ruas de Copacabana (eu tinha certeza que seríamos assaltados o tempo todo), dos arrastões na Grajaú- Jacarepaguá, das vezes que deixamos de sair por causa da segurança, da precariedade do transporte público, da falta de saneamento em grande parte da cidade. Ou seja, da total falta de qualidade de vida.
Sim, me lembrei de tudo isso e agradeci por ter tido a oportunidade de viver em um lugar mais tranquilo. Mais feio. Porém mais seguro, com maior acesso a cultura e lazer e maiores oportunidades profissionais.
Ainda não sei como digerir essa saudade de algo que não me faz bem. Parece um relacionamento abusivo, onde mesmo sabendo que merecemos mais que isso, cismamos em querer voltar.
Por enquanto, sigo forte. Talvez eu vá para outro lugar, buscando um pouco mais de equilíbrio entre belezas naturais e qualidade de vida. O Brasil me acostumou mal, não consigo mais dar moral para feio.