Good Morning, Carolyne. Vamos embora do Brasil?
Foi assim que um dia decidi que queria mudar minha vida completamente.
Não é nenhum segredo que a vida do pobre premium (conhecido como classe média) é cheia de privilégios e ainda assim está longe de ser tranquila. Adicionado a isso, o medo constante da violência no Rio de Janeiro, as privações e os constantes ataques (assalto na rua, assalto no trânsito, assalto dentro de casa em um condomínio fechado levando um membro da família como refém) e foi decidido: precisamos ir embora daqui.
Basicamente todos os meus amigos me perguntam sobre a nossa trajetória e resolvi escrever aqui um pouco dela para compartilhar com quem quiser ler (bom, esse é o objetivo desse blog como um todo).
Vou começar dizendo que não somos ricos e não foi fácil conseguir chegar aqui de forma legal.
Escolhendo para onde ir:
Nosso primeiro passo depois da decisão de ir embora, foi pensar para onde. Como a maioria dos sonhadores latino americanos, meu primeiro pensamento foi Estados Unidos. Mas em menos de alguns minutos de pesquisas sobre o processo imigratório dificultoso, os custos e principalmente o nível de violência do país, desisti.
Inglês nunca foi problema. Eu e marido falávamos bem o básico e sabíamos que uma vez inseridos no idioma, pegaríamos fluência com facilidade.
Depois de muitas pesquisas sobre cultura, qualidade de vida e oportunidades, ficamos entre Australia e Canadá.
E como somos dois pinguins que amam frio e neve, Canadá venceu. Com base nas oportunidades de crescimento profissional, escolhemos Toronto, em Ontario, para morar.
Saúde: A saúde no Canadá é publica e cada província tem seu sistema e regras. Aqui em Ontario o nosso sistema é o OHIP – Ontario Health Insurance Plan.
Por mais que o sistema seja público, os médicos trabalham de forma autônoma prestando serviços para o governo.
Uma diferença que gera estranhamento aos brasileiros é o fato de não podermos marcar consultas com especialistas sem antes passar pelo seu clínico geral (family doctor). Somente ele poderá dizer se existe a necessidade de uma consulta especializada. E esse trâmite também é feito internamente pelas clínicas, sem o seu controle.
Ou seja, eu marco uma consulta com o meu médico geral, explico que estou com dor de estômago e após a analise dele, a clínica envia uma solicitação de consulta para o gastro. Alguns dias depois (com sorte, sem sorte, meses depois) a clinica do gastro te avisa quando será sua consulta. E isso vale para praticamente todas as especialidades, tirando urgências e emergências.
O seu médico também se comunica direto com a farmácia. Nada de sair por ai com a receita na mão. A prescrição vai direto para a farmácia que você indica (a mais próxima de casa é sempre um bom chute) e eles vão preparar o seu potinho de remédio com a quantidade exata que foi pedida pelo doutor (nada de sobrar comprimidos para a próxima virose) e te ligam para ir buscar quando tiver pronto.
Eu acho até bem fofinho esse cuidado de ir pegar medicação na farmácia. Os farmacêuticos te explicam certinho como usar/tomar, quais os efeitos colaterais podemos esperar e mais um monte de avisos.
Sempre bom lembrar que o OHIP não cobre os remédios prescritos pelo seu médico.
As regras de cobertura podem mudar de tempos em tempos e podem ser verificada no site do governo.
Qualidade de vida: Essa questão é bem pessoal. E o meu ponto principal foi estudar as taxas de criminalidade, razões sócio-econômicas e como o problema esta sendo tratado.
Toronto é uma cidade grande com alma de interior. Não existe muita vida noturna fora do eixo das baladas extravagantes e caras. Mas temos bons shows, peças de teatro, musicais e pubs agradáveis. Os museus são bem cuidados e com um acervo interessante. As bibliotecas são incríveis e um dos meus lugares favoritos para passar o tempo. Muitos parques naturais para conhecer e admirar a vegetação diferente.
O transporte público é um tema delicado. O sistema canadense é cheio de defeitos (como em quase todo lugar do mundo), mas no geral funciona bem para as linhas mais movimentadas.
Diferenças práticas: como não existem contos de fadas, precisei pesquisar o que iria mudar no meu jeito de viver e me preparar. Com isso encontrei:
1- sem ralo no banheiro – limpeza sem jogar água no chão
2- todos os ônibus param em todos os pontos, não precisa fazer sinal
3- a maioria dos empregos de cargos baixos, te pagam por hora trabalhada e não um salário mensal
4- as empresas por padrão não oferecem vale-refeição / transporte
5- gorjeta é um ato de boa educação, deve ser oferecida para qualquer tipo de serviço (não somente garçons) e pode chegar a 20% do valor da sua conta
6- alguns apartamentos não possuem maquina de lavar/secar roupa e você precisa usar a lavanderia do prédio ou até mesmo uma na rua
7- apartamentos / casas de aluguel já possuem fogão, geladeira, microondas e lava louça (em sua maioria)
8- não existe plano de saúde. Mas você pode contratar um seguro saúde para garantir as especialidades que sua província não cobre e medicamentos
9- maconha para uso recreativo é legalizada e você pode pedir pelo Uber Eats
10- não é permitido consumir bebidas alcoólicas na rua
E depois de muitas horas de pesquisas e conversas, oficializamos que iríamos embora para Toronto.
No próximo post vou contar um pouco de como foi o processo de planejamento financeiro e imigratório (vistos).